domingo, 13 de abril de 2014

A atualidade de dom Helder Câmara, meio século depois

Exatamente cinquenta anos atrás, a 12 de abril de 1964, entrava solenemente na Arquidiocese de Olinda e Recife dom Hélder Câmara: um homem que marcou a história da Igreja brasileira e que, só seis anos depois, o Sunday Times definiu “o homem mais influente da América Latina logo atrás de Fidel Castro”. A chegada a Recife deu-se poucos dias depois do golpe dos militares de 31 de março. 

O novo Arcebispo, desde então bispo auxiliar do Rio do Janeiro, jamais deixou de denunciar os abusos dos militares, ele que, no início de seu sacerdócio tinha posições ideias conservadoras. Entrando em Recife, dom Hélder não quis ser recebido na catedral, mas na praça, em meio às pessoas. Marcelo Barros, abade beneditino e teólogo da libertação, colaborador de dom Hélder durante doze anos, escreveu esta lembrança: "O arcebispo em seu discurso afirmou: ‘No Nordeste do Brasil, Jesus Cristo chama-se Zé, Maria e Severino. Tem pele morena e sofre a pobreza". E anda: "Dom Hélder em cada irmão e irmã que encontrava via a presença divina. Manifestava esta sua abertura principalmente quando se encontrava com os mais pobres e marginalizados. Uma vez por semana nos reunia em sua casa. Enquanto falávamos, muitas pessoas batiam à sua porta. Ele mesmo se levantava e os acolhia. Às vezes demorava ouvindo-as. Desculpava-se assim conosco: ‘Faço questão de recebê-los pessoalmente, porque não quero perder o privilégio de receber o próprio Senhor’". 

Este traço humano, feito de humildade e delicadeza e dimensão profética de defensor dos direitos humanos, após quinze anos de sua morte, engrandeceram ainda mais sua figura e sua mensagem, que continuam atuais e eloquentes.

A casa onde viveu, hoje museu, e a cripta da catedral de Recife onde se encontra depositado seu corpo, são meta de visitas e de encontros de fiéis para rezar e para respirar o ar de sua mística. Mas entre os motivos que tornam ainda mais familiar sua figura está, sem dúvida, também o sonho de “uma Igreja pobre para os pobres” que tem grande semelhança com a Igreja que papa Francisco está buscando plasmar. 

E outro particular: exatamente uma frase de alguns dias atrás do atual Papa lembra de perto algo semelhante pronunciada por dom Hélder Câmara. Bergoglio, em entrevista a um grupo de jovens belgas, afirmou: "Ouvi dizer que uma pessoa falou: com este falar dos pobres, este Papa é um comunista! Não! Esta é uma bandeira do Evangelho, a pobreza sem ideologia, os pobres estão no centro do Evangelho de Jesus". Muitos anos antes, o “bispo vermelho” – como o apelidavam os militares e seus adversários – saiu com uma expressão que lembra de perto a conversa de Francisco: "Quando dou de comer a um pobre, todo me chama de santo. Ma quando quando falo que os pobres não tem comida, todos me apelidam de comunista".

Texto extraído de Católicos.com

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