sexta-feira, 26 de julho de 2013

HOMILIA DA FESTA DE SANTANA




Meus irmãos, minhas irmãs, nesta festa solene de nossa excelsa Padroeira, impelido pela minha responsabilidade de Pastor da Igreja de Serrinha, diante de situações e atitudes negativas que o povo padece, elevo a minha voz, indicando a solução no exercício da responsabilidade, a vários níveis, chegando, em seguida, a destacar uns fatos concretos que corroem a dignidade humana, tornando impossível viver uma vida boa, de qualidade.
Introdução: Quando si fala de responsabilidade, é necessário recorrer ao termo liberdade, porque esta é a palavra que mais pede a responsabilidade, aliás “liberdade significa responsabilidade, É por isso que muita gente tem medo dela” (George B. Shaw, escritor irlandês). A liberdade é o dinamismo fundamental do ser e do agir humano, porque quando se nega o livre arbítrio, desaparece a possibilidade de falar da responsabilidade: é o homem livre que tem capacidade de ter consciência, de refletir e ponderar suas ideias, suas opções, de reconhecer seus erros e corrigir-se para o bem. Portanto, meus irmãos e minhas irmãs, estamos falando de uma responsabilidade moral, de uma virtude, não só do ponto de vista espiritual, mas, antes, do ponto de vista cívico, humano, como cidadãos do mundo. De fato, a responsabilidade nos leva à abertura aos outros, nos leva a recusar o mal, mesmo quando é sedutor, e escolher o bem, mesmo quando custa, leva à honestidade, à justiça, à vantagem social e não à particular.
Assim a responsabilidade moral, que cada qual tem em relação a si mesmo, alarga-se necessariamente aos outros, de forma que toda boa ação melhora a convivência humana (Cfr. L. Monari: A responsabilidade é uma virtude cívica).
Quem não tem a liberdade de escolher e de agir, torna-se não responsável, no sentido que não pode exercer sua responsabilidade por causas externas, como, por exemplo,  nos regimes totalitários: faltando a liberdade, obrigados a agir conforme a decisão alheia, não se tem a responsabilidade moral.
Mas existem formas de irresponsabilidade imputáveis às pessoas, quando elas, por esperteza, por interesses, por ideologias agem contra o bem comum. E parece que a nossa sociedade esteja avançando neste sentido, sem perceber que está destruindo a vocação humana.
Poderíamos citar a irresponsabilidade de quem se apela à liberdade de pensamento e de expressão, não em vista do bem comum, mas para fazer a cabeça das pessoas, para difundir a mentira e os vícios; a irresponsabilidade de quem usa os meios de comunicação, instrumentos tão preciosos para a sociedade, para propagar interesses ocultos; a irresponsabilidade de quem usa a campanha eleitoral não para oferecer respostas concretas aos problemas sociais, mas para se promover, enganando com promessas que nunca serão cumpridas ( Cfr. L. Monari).
1.      Dizendo isso, já estamos nos adentrando nos problemas concretos de nossa sociedade que exigem uma resposta, a partir da responsabilidade de quem detém alguma autoridade.
A primeira provocação é dirigida à Igreja como um todo: do Bispo até o último dos fiéis.
O Papa Bento XVI, ao proclamar o Ano da Fé, quis relançar o programa da Nova Evangelização, desenhado pelo Papa João Paulo II, entendendo a N.E. como prioridade da Igreja do terceiro milênio.
Parece que nas Paróquias foi pouco recebida esta preocupação do Papa. Na Visita Pastoral não faltaram apelos e orientações e, agora, no Sínodo Diocesano, estaremos chamando atenção a este respeito, perguntando: como conquistar os homens de hoje ao Evangelho? Como reconduzir os jovens a Jesus Cristo? Que tipo de catequese faremos para renovar a fé cristã? Como recuperar a identidade da família cristã? Estas e outras perguntas deverão encontrar respostas concretas, sérias, novas para o revigoramento da fé.
Ninguém dentro da Igreja poderá dormir sonos tranquilos, se não se dedicar com paixão a construir a N.E. Como poderíamos ficar tranquilos, quando sabemos que tantas pessoas, talvez a maioria, não têm Deus no horizonte da vida?
O Papa Bento XVI oferecia uma resposta, apontando duas coisas:
- voltar ao essencial da fé e da vida cristã;
- viver nós mesmos, por primeiros, uma profunda experiência de Deus.
Concluo esta primeira provocação dizendo que a responsabilidade do cristão no mundo é uma verdade que provém da visão cristã da vida, muito bem ilustrada pela Doutrina Social da Igreja. Trata-se da nossa resposta à solidariedade de Deus para conosco, evidenciada principalmente na encarnação de Jesus.
De fato, nós cristãos sabemos que Deus nos quis cidadãos do mundo e que nos colocou, por um tempo, na história do mundo, para darmos conta dela com responsabilidade, conscientes de que a fé não serve para melhorar a economia ou resolver problemas sócio-políticos, mas ela serve para melhorar o homem no seu interior, para que este possa melhorar o mundo com sua vivência e seu testemunho.
Interessante, a este propósito, a palavra do Papa Francisco durante a visita a comunidade de Varginha: “Não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável, porque nós somos irmãos” e ainda: “tudo aquilo que se compartilha, se multiplica!”.
2.1  A segunda provocação se dirige ao mundo político e social, que tem a responsabilidade de construir uma cidade em que cada pessoa possa viver bem, com dignidade.
Os protestos nas ruas dos últimos meses dizem que o povo brasileiro não está dormindo. Muito pelo contrário. O povo, cansado de sofrer, de suportar injustiças por parte de ‘sem vergonha’ que foram eleitos para servir o povo e a Nação e que não se importam com isso, mas só com seus benefícios, invadiu as ruas clamando pela justiça e a honestidade. O quadro da situação é fosco demais. Exigem-se mudanças e mudanças para valer.
Deste quadro fosco procuro trazer às claras algumas situações gravíssimas que mostram a falta de responsabilidade por parte de quem governa ou de quem deve legislar.
Infelizmente, devo voltar  de novo ao problema do aborto, que já abordei na homilia do ano passado, porque o Senado aprovou recentemente o Projeto de Lei da Câmara 3/2013 com a intenção de legalizar o aborto provocado. Usaram a estratégia de querer oferecer assistência integral de saúde às vítimas da violência sexual. Tudo bem! Mas passaram também itens que favorecem a legalização proposital do aborto. Foi um procedimento dissimulado e indigno, feito de astúcias e, portanto, perverso.
A aprovação, após rapidíssima tramitação, aconteceu sem quaisquer debates.
Eu pergunto: os Deputados e os Senadores não sabiam o que estavam votando? Estavam dopados, por acaso? Eles não entendem que gravidez não é patologia, que uma vida gerada não é doença a ser curada ou eliminada?
Eles só entendem mesmo as cifras do seu gordo salário, entre os mais altos do mundo!
Nós católicos, juntos com todas as pessoas de boa vontade que estão a favor da vida, não calaremos. O nosso grito sempre será: o aborto é um crime, não um direito humano.
Agora o projeto está nas mãos da Presidente da República Federal. A CNBB já se manifestou, pedindo o veto a tal projeto, pelo menos dos itens que abririam a possibilidade legal de provocar o aborto.
Queremos ver se a Senhora Presidente respeita a Constituição federal, que tem como fundamento a dignidade da pessoa humana (artigo1º) e que garante a inviolabilidade do direito à vida (artigo5º).
Queremos ver se a Senhora Presidente é pessoa de palavra, cumprindo o compromisso com o povo brasileiro, durante as eleições de 2010, de que não legalizaria o aborto no país, ou se se deixa levar pelo partido abortista a qual pertence.
2.2  Outro  aspecto   que   merece  a  nossa  atenção é a   calamitosa   situação  da  saúde pública em todo o país.
Ainda ressoa em meus ouvidos o grito desconsolado de inúmeras pessoas desamparadas pelo sistema público da saúde, que não recebem internação nos hospitais superlotados, não recebem curas adequadas porque de alto custo, obrigadas, portanto, a ficar deitadas em suas camas, com suas dores, sem cura e sem esperança. Esta é a situação da nossa Diocese que encontrei na Visita Pastoral.
E que dizer da notícia que recebi, segundo a qual públicos oficiais chamados a avaliar a situação de saúde das pessoas para aprovar o benefício da aposentadoria ou da invalidez, seriam pagos para negar tal benefício?
Não quero acreditar, mas se for verdade, tamanha iniquidade deverá se encontrar com a justiça divina.
O sofrimento das pessoas fere o meu coração e gera em mim uma revolta. Para oferecer uma resposta a este problema, tentei percorrer caminhos para trazer em nossa cidade um Hospital de qualidade, com serviços especializados que aqui não existem. Infelizmente, não sei se ainda tem esta possibilidade, porque si passou um tempo longo, mais de um ano e meio e não tive respostas: problemas burocráticos? Incompetência ou má vontade de agir? Interesses políticos ou outros?
Não sei, mas eu fiquei triste e desanimado. Ainda parece existir um mínimo de esperança pela solicitação que o Sr. Prefeito encaminhou ao governo do Estado, para liberar a documentação necessária.
Acredito que seja tarde demais, mas a esperança é a última a morrer.
Quero lembrar aos governantes, aos médicos, aos bem abastecidos que procuram hospitais de renome fora da cidade, que todos nós, ninguém excluído, somos candidatos ao sofrimento: não sabemos quando, se agora ou amanhã ou nos últimos anos devida, mas o sofrimento chegará até nós!
Enquanto estamos com saúde, a tendência é non pensar nisso e também esquecer-se do sofrimento alheio. Sendo que amanhã nós poderíamos precisar, e muito, procuremos dar a necessária atenção a todos os doentes, procuremos oferecer todo tipo de assistência, de prevenção às doenças físicas e psicológicas.
Aos que têm o poder eu peço de assumir, em seus programas de governo, a saúde como prioridade absoluta: a voz do povo clama e a voz de Jesus manda-nos fazer a mesma coisa que fez o Bom Samaritano.
Eu, em nome da Diocese, assumo hoje o compromisso de preparar um ambiente para atendimento às pessoas idosas, mostrando assim que a Igreja, desde sua origem, preocupa-se com os problemas sociais e as necessidades dos homens.
A pastoral familiar, com outros movimentos afins, estará na vanguarda deste projeto.
2.3  Enfim, a terceira provocação é um olhar sobre a cidade de Serrinha, que julgo atrasadas de algumas décadas quanto à infraestrutura, à organização, à civilização, que exige mútuo respeito, consideração e urbanidade, que significa respeito à cidade, às coisas públicas e valorização de tudo o que é de todos.
Sinais de crescimento têm, sem dúvida alguma, mas se não forem acompanhados pelas atitudes acima, a imagem negativa de quem chega à cidade continuará senso predominante, mesmo com a implantação do shopping.
Luxo e lixo não combinam; avanços e atrasos se contrapõem; bagunça e desordem não geram progresso.
Fui tomado pela curiosidade e andei em todas as ruas da cidade, entre a linha do trem e a BR116: não encontrei uma rua sequer, a não ser alguns trechos, sem lixo ou buracos, ou entulho, ou materiais de construção, ou com calçada e solo público ocupados por particulares, com grave incômodo para pedestres e auto veículos.
É esta, por acaso, a urbanidade, isto é uma cidade bela, limpa, organizada?
Gostaria de ver a cidade de Serrinha, que tem a bela idade de 137 anos de emancipação, igual àquelas senhoras de idade avançada, mas bem arrumadas e cheirosas.
Pelo contrário, a senhora Serrinha se apresenta desajeitada, malcheirosa, despenteada, com traços  de antiga beleza mal cuidados. Quem pode gostar dela?
Eu quero te ver bonita, Serrinha, minha pátria de adoção! Mas todos os Serrinhenses devem colaborar para o restauro, para a reconstrução, para o embelezamento da cidade.

Conclusão: Irmãos e irmãs, só me resta agora o apelo à Senhora Sant’Ana: não peço, Santa Padroeira, o milagre da conversão das pessoas que estão longe da Igreja, que non vivem o amor, que até não conhecem ou não querem se encontrar com Jesus; eu peço à Senhora de ficar perto dos seus fiéis e devotos, de ajudá-los a viver seus compromissos, exercendo a responsabilidade que temos em força do batismo.
Se cada um de nós for responsável de sua vida, de sua vocação e da vida dos irmãos, nós estaremos construindo a cidade de Deus em nossa cidade: um novo tempo irá amanhecer.
Assim seja.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário